domingo, 24 de agosto de 2014

A pressa nossa de cada dia nos acelera hoje




Me desculpem se vivi mais do que se espera de alguém da minha idade. Me desculpem se cada instante que se passa é para mim um instante que se perde. Se passo o hoje a ansiar pelo amanhã e se o amanhã me apavora por anunciar o fim. Me desculpem se não sei controlar a pressa que agita meu espírito. Não quero viver um dia de cada vez, quero viver um dia na intensidade de três. Não sei andar devagar. Não sei amar pouco, não sei amar poucos. Quero conhecer o mundo, quero mudar o mundo.  Me desculpem se quero aprender cinco, seis idiomas estrangeiros; se quero aprender a dançar; se quero escrever muito, se quero arrumar um trabalho que me faça feliz; se quero tempo para militar e se também quero tempo pro lazer. Perco prazos com outros prazos mais distantes na cabeça. Perco amores antecipando mentalmente o fim da relação. Mas não perco vida, ela me sacode, me ferve e me lança o tempo inteiro em movimento. Perco a juventude dia a dia e isso me apavora com o medo da solidão. Mas sigo adiante, me apegando à força dos amores incondicionais. Temo a morte das pessoas queridas e sofro antevendo o futuro. Mas sigo adiante, buscando distribuir meus sentimentos e fazer da classe trabalhadora minha família. Não sei o que pensar da morte, não tenho nenhuma certeza. A única certeza que carrego nessa vida é que uma vida é muito pouca para tudo o que desejo.

Mariana Penna, 2014.

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