terça-feira, 13 de dezembro de 2022

A mãe e o acadêmico

 

A mulher adentrou o prédio com um bebê chorando. Tal como a possível ambiguidade da frase precedente, não era possível identificar se apenas o bebê chorava ou se ela também. Os cabelos desgrenhados, a roupa descombinada, elementos que se encaixavam àquele cenário caótico de barulhos, de agitação. Mal conseguia segurar a porta para fazer passar o carrinho, enquanto deixava objetos cair pelo chão. Ou seria o bebê que os arremessava? Na outra extremidade de um longo corredor, uma sala de estar. Minutos antes, um homem sentava-se confortavelmente no sofá. Um fone de ouvido daqueles grandes estava pendurado em seu pescoço, nas mãos um livro, para o qual destinava inteiramente sua atenção. Porém, sua paz compenetrada foi interrompida por uma porta abrindo, abruptamente, pela mulher descabelada, com seu bebê barulhento, no carrinho trambolho. Olhou brevemente para a cena, levemente incomodado. Mas prevenido como o era, acomodou o fone cobrindo as orelhas e tornou a ler.

 Mariana Penna, dezembro de 2022.