Não
é nenhum segredo minha experiência de bullying durante praticamente toda a
trajetória escolar. No Ensino Fundamental eu era a esquisita, tímida, a cdf
feiosa da sala. Aquela com quem não se deve fazer amizade, mas que tem
serventia como bom alvo de deboche e piadas para entreter a turma. Aquela com
quem gostavam de “formar parzinho” com outro pária: o menino mais feio,
esquisito ou deficiente. Nunca me acomodei, não aceitei conformada essa
condição. As estratégias para me fazer mais amada, porém, nunca tiveram bons
resultados.
Isso
até o natal de 1999. Ganhei de presente do meu tio um CD da banda de punk rock
estadunidense The Offspring. No ano a seguir eu faria 15 anos, mas não queria
festa, queria dar meu primeiro beijo, conhecer pessoas, ser livre, mudar o
mundo e fazer amigos de verdade. E sim, seja porque o universo respondeu aos meus
desejos, seja porque sou bastante determinada, aquele foi um ponto de virada na
minha vida. O beijo demorou um pouquinho mais, mas ok! Eu mudei de fato, mas ao
invés de tentar me adaptar, quis me reconstruir.
Chegando
na nova escola, desesperada por um novo começo e em poder fazer da minha vida
algo diferente, não era a única novidade. Havia outra forasteira no pedaço:
Tereza.
Tereza
era linda, imprevisível e extravagante. Tinha um corte de cabelo diferentão, uns
peitões de colocar respeito, usava grandes e coloridos anéis, vinha do Rio de
Janeiro e exalava liberdade e modernidade por todos os poros. De cara, se
tornou uma sensação: os meninos babavam, as meninas miravam cheias de
curiosidade.
Para
mim Tereza era quase um personagem saído da minha imaginação. A Barbie que eu
brincava e vivia as maiores aventuras um ano antes de entrar para o Ensino
Médio também se chamava Tereza. Ousada, destemida, igualmente extravagante e,
acima de tudo: amada. Meu alter ego encarnado.
Ela
não era como as outras meninas bonitonas e populares que debochavam de mim ou
me tratavam com desdém. Nunca fomos propriamente amigas, acho que ela não
chegou a fazer nenhuma grande amizade naquela escola, mas sempre foi simpática
comigo, me tratava bem, conversava.
Porém,
em pouco tempo Tereza se tornou demasiada para a visão estreita de meus
colegas. Ela queria liberdade e se sentia sufocada. De desejada, passou a ser
malquista, desajustada certamente.
Tereza
foi embora da escola. Nunca falei mal de Tereza, eu a admirava, não invejava. Mesmo
quando ela ficou com o menino por quem eu me derretia, somente me resignei. Não
me sentia suficientemente “Tereza” para conquistar a afeição dele.
O
tempo passou, eu continuei Mariana, mas deixei vir à tona doses de Tereza que
sempre viveram em mim. Às vezes ela aflora mais acentuadamente, às vezes ela se
resigna e vai tirar um cochilo. Se é verdade que somos feitas de várias
facetas, quase como subpersonalidades, aquela que dentro de mim olha para cima
e diz bem alto “Eu sou foda!” certamente se chama Tereza.
Mariana Penna (2018)
Muito bom, vc escreve super bem, alegre e extrovertida, Teresa.
ResponderExcluirQue bom que vc gostou! Fazia um tempinho que eu não publicava nada, quando alguém demonstra que gosta, dá uma energia extra que me motiva a continuar escrevendo. Obrigada!
ResponderExcluirVocê é demais! ❤
ResponderExcluirLi todo e amei, mas o meu preferido é Juliana e os gatos.
Ai que legal! Eu tmb gosto demais daquela história, é das minhas favoritas! Obrigada! Saber que tem gente que curte as coisinhas que escrevo me dá uma alegria tremenda! :)
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