sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Sobre Tereza



Não é nenhum segredo minha experiência de bullying durante praticamente toda a trajetória escolar. No Ensino Fundamental eu era a esquisita, tímida, a cdf feiosa da sala. Aquela com quem não se deve fazer amizade, mas que tem serventia como bom alvo de deboche e piadas para entreter a turma. Aquela com quem gostavam de “formar parzinho” com outro pária: o menino mais feio, esquisito ou deficiente. Nunca me acomodei, não aceitei conformada essa condição. As estratégias para me fazer mais amada, porém, nunca tiveram bons resultados.
Isso até o natal de 1999. Ganhei de presente do meu tio um CD da banda de punk rock estadunidense The Offspring. No ano a seguir eu faria 15 anos, mas não queria festa, queria dar meu primeiro beijo, conhecer pessoas, ser livre, mudar o mundo e fazer amigos de verdade. E sim, seja porque o universo respondeu aos meus desejos, seja porque sou bastante determinada, aquele foi um ponto de virada na minha vida. O beijo demorou um pouquinho mais, mas ok! Eu mudei de fato, mas ao invés de tentar me adaptar, quis me reconstruir.
Chegando na nova escola, desesperada por um novo começo e em poder fazer da minha vida algo diferente, não era a única novidade. Havia outra forasteira no pedaço: Tereza.
Tereza era linda, imprevisível e extravagante. Tinha um corte de cabelo diferentão, uns peitões de colocar respeito, usava grandes e coloridos anéis, vinha do Rio de Janeiro e exalava liberdade e modernidade por todos os poros. De cara, se tornou uma sensação: os meninos babavam, as meninas miravam cheias de curiosidade.
Para mim Tereza era quase um personagem saído da minha imaginação. A Barbie que eu brincava e vivia as maiores aventuras um ano antes de entrar para o Ensino Médio também se chamava Tereza. Ousada, destemida, igualmente extravagante e, acima de tudo: amada. Meu alter ego encarnado.
Ela não era como as outras meninas bonitonas e populares que debochavam de mim ou me tratavam com desdém. Nunca fomos propriamente amigas, acho que ela não chegou a fazer nenhuma grande amizade naquela escola, mas sempre foi simpática comigo, me tratava bem, conversava.
Porém, em pouco tempo Tereza se tornou demasiada para a visão estreita de meus colegas. Ela queria liberdade e se sentia sufocada. De desejada, passou a ser malquista, desajustada certamente.
Tereza foi embora da escola. Nunca falei mal de Tereza, eu a admirava, não invejava. Mesmo quando ela ficou com o menino por quem eu me derretia, somente me resignei. Não me sentia suficientemente “Tereza” para conquistar a afeição dele.
O tempo passou, eu continuei Mariana, mas deixei vir à tona doses de Tereza que sempre viveram em mim. Às vezes ela aflora mais acentuadamente, às vezes ela se resigna e vai tirar um cochilo. Se é verdade que somos feitas de várias facetas, quase como subpersonalidades, aquela que dentro de mim olha para cima e diz bem alto “Eu sou foda!” certamente se chama Tereza.

Mariana Penna (2018)


4 comentários:

  1. Muito bom, vc escreve super bem, alegre e extrovertida, Teresa.

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  2. Que bom que vc gostou! Fazia um tempinho que eu não publicava nada, quando alguém demonstra que gosta, dá uma energia extra que me motiva a continuar escrevendo. Obrigada!

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  3. Você é demais! ❤
    Li todo e amei, mas o meu preferido é Juliana e os gatos.

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    1. Ai que legal! Eu tmb gosto demais daquela história, é das minhas favoritas! Obrigada! Saber que tem gente que curte as coisinhas que escrevo me dá uma alegria tremenda! :)

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