sábado, 11 de julho de 2020

O amor e seus dias


Tem dias que quero me fundir a você, grudar no seu corpo, sentir seu calor, mesclar-me contigo a tal ponto que não pudéssemos distinguir onde termina um e começa o outro. Nesses dias até me dá vontade de ser inconsequente.

Tem dias que eu te desejo tanto que chega a doer. Meu coração parece subir para a garganta e me desconcentro: só me resta pensar em você, criar cenários mil, paradisíacos e apocalípticos, numa ansiedade desesperadora. Até desejo que você não existisse pra não existir o mal estar.

Tem dias que parece que você vai me escapar por entre os dedos, meu abraço não te prende e quanto mais eu tento te segurar, mais você se perde de mim. Nesses dias me sinto pequena, insuficiente.

Tem dias que são mornos. Você está presente e estamos juntos. Eu reparo nas tolices que você fala, você me parece tão estupidamente humano.

Tem dias que você está chato. Até seu corpo escultural parece ordinário. Tudo que fala parece repetitivo e fatigante, sua compreensão política tão limitada. Nesses dias você me sufoca, me limita. Eu me sinto grande, linda, expansiva. Quero sair com amigos, me acabar em euforia, mas lembro do jantar a dois previamente combinado. Como eu queria estar solteira!

Tem dias que lembro do seu afeto, sinto seu cuidado. Nesses dias sinto que você olha pra mim e me vê. O seu abraço parece não querer me deixar escapar. Sinto conforto, mas ainda uma vontade de voar e ela me divide.

Tem dias em que os seus defeitos parecem engraçadinhos. Sua timidez é tão sensual. Eu te admiro e percebo que você me admira. Não me sinto compelida a nada.

Tem dias que você parece uma parte externa de mim, porém livre e independente. Eu sinto confiança em você, não tenho medo de perder, nem desapontar. Não preciso me esforçar nem forçar a nada, basta simplesmente ser. Nesses dias sinto conforto.

Tem dias que olho para você e simplesmente sei que é amor.

Mariana Penna, 2020.