MADA
Eu só queria alguém que me amasse, que me admirasse, que me
desse atenção o tempo inteiro. Alguém que fizesse minha vida fazer sentido,
alguém que conseguisse me fazer vencer o tédio, dar cor ao mundo e às coisas em
minha volta. Eu queria isso e queria o tempo inteiro.
Quando criança viajava para visitar os parentes, as viagens
eram longas. No caminho, quando não conversava com meus pais, olhava para o
nada e mergulhava a imaginação em romances. Eles vinham fácil, sem muitos
esforços. Histórias com grandes emoções, aventuras cujo central era não apenas
superar as adversidades do mundo, mas alcançar o bem maior e sublime: o grande
amor. Aquelas histórias me relaxavam, me tranquilizavam frente às limitações da
vida na infância. Uma vida sem liberdade, sem autonomia, de pura dependência
dos adultos e, principalmente, uma vida sem poder concretizar romances.
Mesmo católica, nunca quis ser freira. Nenhum fanatismo
religioso do mundo seria capaz de me dissuadir a querer viver as maravilhas da
paixão, de desejar um homem. Os homens sempre foram parte de minha imaginação e
desejo. Neles eu me via valorizada, a eles eu queria impressionar, pois a
grande vitória seria um dia encontrar o melhor deles, o que seria perfeito para
mim, minha redenção, o realizador da minha felicidade.
Deve ser por isso que aquele dia eu ri delas. Não as vi
pessoalmente, mas vi um cartaz afixado num dos murais da universidade: MADA.
Mulheres que Amam Demais Anônimas, dizia. Achei aquilo a coisa mais ridícula.
Debochei, não lembro se para mim mesma, dentro de meus pensamentos, ou se
cheguei a externar com alguém este deboche. Fato é que não me parecia haver
sentido naquilo. Um alcoólatra procurar um grupo de autoajuda? Ok. Um viciado
em cocaína buscar um grupo anônimo para compartilhar suas angústias? Normal,
compreensível. Mas aquele vício não químico e um vício exclusivo de mulheres,
eu achei ridículo.
Talvez sequer tenha entendido o que significava.
Provavelmente não vi que eram mulheres que sofriam por necessitar agradar a
todo custo os homens, por procurar príncipes encantados e fazer tudo por eles.
Não me reconheci nelas, não tive empatia por elas. Mas elas eram eu.
Mariana Penna, 2017.