Certa vez um estrangeiro, que eu acabava de conhecer,
quis pegar a minha mão. Uma ação de apreço, mas que gerou significativo
desconforto. Parecia leviano. Expliquei que no Brasil as pessoas transam, mas
não andam de mãos dadas. Andar de mãos dadas implica algo muito maior. É um
reconhecimento, uma expressão pública de afeto. É igualar-se ao outro. A
hierarquia despreza essa ação. Como revela um famoso quadro de Debret, nas
calçadas do período colonial, o homem andava na frente, seguido em fila pelos
filhos, pela mulher e serviçais. Andar de mãos dadas, ao contrário, equaliza, e
mais que isso: une, afere respeito, reconhecimento. Não à-toa é o sonho de todo
aquele que se encontra em desvantagem no mercado afetivo. À mulher feia é
garantido o sexo – de qualidade duvidosa. Andar de mãos dadas é uma aspiração
muito mais difícil de se ver satisfeita.
Dar as mãos significa mais que colocar-se lado a lado. Duas
pessoas circunstancialmente juntas andam lado a lado. Duas pessoas que escolhem
traçar um caminho comum, dão-se as mãos. Plínio e Anderson caminhavam de mãos
dadas na Avenida Paulista. Casados há 4 anos, unidos há 7. Discriminados por
parte da sociedade, naquele ato reconheciam a dignidade um do outro e
orgulhavam-se publicamente daquilo que compartilhavam. O Ódio, não pode mais
escondê-los do mundo como faz o homem fútil com sua ficante gorda. Assim sendo,
deseja eliminá-los. Uma facada no peito separou para sempre as mãos de Plínio
das de Anderson. Vida, planos, projetos compartilhados: foram todos ceifados. À
barbárie por cima legitimada, segue-se o luto e a luta. É por eles, pelos
enjeitados da sociedade, pelos que têm sua existência transformada em piadas,
que “ninguém solta a mão de ninguém”. Desafiar a lógica do desapego,
apegando-se voluntariamente um ao outro. Virou um lema. Alguns criticam, talvez
seja mais um discurso que uma prática, talvez diferentes interesses impliquem
exclusões, mas é um símbolo e símbolos têm poder. As mãos dadas têm poder.
Mariana
Penna, 2018.
As mãos dadas dos que se amam, fere o orgulho do hipócrita, do inrustido,do infeliz do que só tem ódio no coração, as mãos dadas fortalece o afeto, o respeito e nos iguala, bela reflexão e triste fim pra um casal que se amava.
ResponderExcluirVerdade, muito triste. Por isso quis deixar essa pequena homenagem pra eles e tantos outros que são vitimados por esses males que vc fala.
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