Hoje
quando acordei, pela primeira vez duvidei do seu sorriso simpático. Aquele
boneco de palhaço, feito de pano e madeira, sempre me olhou com ares de bondade
inocente. Hoje não. Hoje ele ria de mim. Tornou-se debochado, irônico. Que
metamorfose estranha pode sofrer um ser de natureza tão inerte! É o espírito!
São os espíritos ancestrais que me cobram, me atormentam. Sussurram em minha
mente: “amaldiçoada”, “quebradora de promessas”! E eu sei a qual se referem.
A
ordem da natureza não se quebra a menos que por sacrifícios. Para alterar os
rumos dos acontecimentos é preciso dar algo grandioso em troca. Assim me
ensinou a matriarca, quem me instruiu nas sabedorias ocultas do universo. E foi
numa madrugada como essa, motivada pelo pranto de mais uma rejeição amorosa que
jurei nunca infligir a outrem a dor do amor não correspondido.
Como
dói a rejeição! Ela que até então era só o que eu conhecia. Foi não muito
depois que o universo pareceu se agraciar com a minha promessa. De indesejável,
esquisita, sem jeito, nem atrativos, subitamente passei a angariar admiradores.
E como é radiante sentir-se amada, admirada! Cumpri minha promessa e os
correspondi... por um tempo.
É
sufocante foçar-se a amar quando não se ama. Asfixia também limitar o amor por
não poder se restringir a ele quando o quer de fato restringido. E foi assim
que não paguei meu sacrifício. Rejeitei o amor que me tinham para amar aquele
que me consome.
O
rancor tomou conta de um dos renegados. “Bruxa!” – me acusou. Leviano, disse
que usei de minhas ervas para seduzi-lo. A ele que tem esposa e filhos, a ele a
quem nunca olhei com interesse qualquer. Não acuse as ervas, nem a mãe do
universo! Essa é a verdadeira blasfêmia! Acuse minha fraca natureza, incapaz de
respeitar a sua ordem, de cumprir com minha promessa.
Pago
agora com minha vida, sou culpada! Os bispos me fisgaram a marca de nascença e
me acusam de noiva do diabo. Porém a natureza não quis que eu fosse noiva de
ninguém e só cabe a ela definir. A ela e a nossos acordos, se os soubermos
respeitá-los. Eu não soube, logo queimarei, sou culpada, mas não do que me
acusam. Queimem-me, pois quem sabe sob uma nova forma, nas cinzas que fecundam
o solo, eu me harmonize melhor aos projetos da Grande Mãe!
Mariana Penna, 2018.
Sempre acompanho no pico da Penna,e lembro de você, da Ana e da Maria como fadinhas . Você representa a cor vermelha, a Maria o azul e a Ana a cor verde.
ResponderExcluirque fofa! <3
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