Era noite, eu
dormia. Porém, com um sono irrequieto, acordei. Estava sozinha, o quarto era
escuro, mas meus olhos, já acostumados à escuridão, conseguiam enxergar.
Havia na parede
uma pequenina porta, nunca antes a tinha observado. Era tão baixa que foi
preciso me agachar para rodar sua maçaneta. Queria saber o que havia lá
guardado. Mas não era um armário. Do outro lado se revelava um baixo e estreito
corredor, cuja profundidade não era possível observar.
Sem nada temer,
engatinhei para dentro daquela misteriosa passagem e em pouco tempo me vi a
frente de uma rampa, como um escorrega. Tudo era escuro lá dentro, mas assim
como no quarto, eu conseguia enxergar em meio à penumbra. Escorreguei e foi então
que vi muitas cores.
Ao final do
escorrega havia luzes, música, mas ninguém estava lá. Apenas um lindíssimo carrossel, no mais clássico estilo francês, girava seus cavalinhos à minha frente. Aquele
paraíso tinha o colorido em tons pastel com os detalhes em dourado. As luzes
que ele emitia era tudo o que existia em meio à total escuridão do entorno: o carrossel iluminado e o absoluto vazio.
Eu o observava num
verdadeiro torpor de encantamento. Era lindo e inebriante. Sentia um prazer
genuíno, um contentamento que mesclava excitação e melancolia, como quando você
ouve uma melodia que lhe parece tocar por dentro e lhe dominar os sentidos.
Não sei quanto
tempo durou aquele curioso êxtase letárgico. Tampouco sei como fui embora e
voltei para meu quarto. Mas uma coisa tive por certo, por mais que desejasse,
nunca mais voltaria àquele sítio. A porta nunca mais se abriu. De tempos em
tempos pensava no carrossel e o relembrava, mas jamais revivi em sua plenitude
as sensações que havia experimentado.
Mariana Penna,
2020.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirFico me perguntando:
ResponderExcluir"Esses textos são acontecimentos reais de vida dela? Ou, será que são são pequenos ensaios?
Ela busca as imagens para se inspirar? Ou, ela escreve e depois busca as imagens pra representar o texto?"
De qualquer forma, comecei a ler hoje. Talvez por isso, ainda não tive tempo de eu mesmo descobrir as respostas.
Cada texto tem uma história. Este é baseado em um sonho que tive quando era criança. Lógico que revisitar esta história hoje dialoga com as questões que me coloco nos dias atuais. É um texto que fala de sonho, de idealização, de utopia. O carrossel no meio da escuridão. Quando vc não consegue ver sentido nas coisas como elas são, evade para um portal e busca num mundo de sonhos um alento. Mas os sonhos em geral não se repetem, não são um lugar para onde podemos buscar refúgio como bem entendermos.
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