Me transformaram em medusa, um monstro. Me
puseram num pedestal, uma deusa. O pedestal inclinado, prestes a cair. Meio
deusa, meio monstro. Punida, amaldiçoada. Punidora, amaldiçoadora. Um poder
sempre cambaleante, intenso, mas frágil. A rainha assassina não quer, mas mata
porque lhe é inevitável. O desejo de controle que descontrola. Não aguenta o
peso, arrebenta a represa. O vampiro que não quer sugar a vida, resiste até que
mata a criança indefesa. A perfeição, a ambição, a culpa. Atena lhe pune, mas
foi por um homem que sofreu o castigo. E por um homem foi exterminada. O amor
ao masculino é sua ruína. Querer sê-lo, querer tê-lo. Reside aí seu poder
cambaleante. Homem não é. Meio deusa, meio monstro. Eternamente ambígua,
eternamente só.
Mariana Penna, 2020.
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