Meu terceiro namorado dividia um apartamento com dois irmãos
gêmeos em Vila Isabel, zona norte do Rio. Eu morava em Vaz Lobo, mas no fim das
contas passava mais tempo por lá do que em minha própria casa. Com isso, acabava
por observar o cotidiano dos irmãos e, neste processo, a admiração por eles foi
surgindo e se ampliando. Durante o dia, reparava como cada um empregava seu
tempo. Um deles era professor de francês, fluente em seis idiomas. Logo pela
manhã, o seu passatempo era pintar ideogramas japoneses. Depois costumava
estudar idiomas e, pela noite, ao chegar em casa, se encantava com os astros através
de um telescópio. Não costumava sair muito, mas quando o fazia gostava de ir em
encontros nos quais pessoas estrangeiras e poliglotas ficavam conversando,
aprendendo e trocando experiências. O outro fazia doutorado em filosofia, tocava
piano e violino. Convivemos menos, ele era menos caseiro que seu irmão, parecia
vez ou outra curtir uma balada. Em comum, ambos eram muito simpáticos, de bem
com a vida e super humildes, não ficavam se exibindo em nada. Seus lazeres eram
costumeiramente produtivos, usavam grande parte de seu tempo para aprender
coisas novas, e esta atitude não era nada forçada, algo pra mostrar
superioridade, muito pelo contrário, era perceptivelmente genuíno, faziam isso
para si mesmos, por gosto puro e simples. Compartilhavam ainda uma apreciação
cultural muito diversificada. Amavam e entendiam igualmente de arte erudita e
popular, e isso valia pro cinema, pra música, pra literatura. Que eu me lembre,
não desprezavam nada, nenhum estilo, ouviam do clássico ao funk, da bossa à
sofrência, da escrita erudita à chamada, pejorativamente, de baixa literatura.
A moral da história? Bem, acho que é meio óbvia.
Mariana A. Penna, 2021.
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