quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Solipsismo - Fragmento 2

  


Ele me disse

Por que você precisa da aprovação dos outros? Você só vê sentido na sua vida em função dos outros? Você sonha acordada imaginando o que os outros pensam de você? Você se identificou com a cena em que a Amelie Polain se imagina morta e as pessoas todas arrasadas pelo seu falecimento? Pela morte da pessoa tão boa que você foi?
O solipsismo foi um tapa na cara, foi alguma coisa dentro de você dizendo: encare isso, os outros não existem, é só você e seus monstros internos! Não há lugar para a fantasia. E a fuga, ah a fuga eram os outros. Aqueles que são seu inferno, que te julgam, mas que são também seu paraíso, que te admiram. No solipsismo não há ninguém para te admirar. Você não é nada além de um deus solitário entendiado de si mesmo. Você é nada!

Ele me disse isso, ele dizia isso ocasionalmente. Mas quem era ele? Um fantasma que me assombrava. O fantasma que me enfeitiçava. Eu já não sabia mais quem ele era. Ele já tinha sido tantos. Um amigo uma vez disse que uma mulher estaria sempre a lhe assombrar e ele de tempos em tempos percebia que a via refletida em outras pessoas, mas era ela, sempre ela a perseguir sua vida. Outro dizia que o amor era como um fusível que é acionado e se queima, durando apenas uma vez.

Mariana A. Penna, 2016.


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