sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Confidências com o desconhecido


Ontem eu troquei confidências com um desconhecido. É mais fácil dessa forma, é como uma confissão sem penitência, porque na ausência do padre, não há julgamento, dois pecadores trocando ideia sobre seus pecados.
Ontem eu troquei confidências com um desconhecido, mas não eram bem confidências. Não escondo grandes segredos, o que não sei é carregar grandes sentimentos.
O desconhecido, muito mais experiente, sabia disso, sabia de outras coisas, e sabia que ele próprio também nunca aprendeu a lidar com isso.
Não me propôs uma penitência, mas o desconhecido me deu conselhos, conselhos que ele próprio não saberia acatar. Disse: fuja!
Lutar contra mim mesma? Não há fuga possível de si própria. Ou há, o suicídio talvez. Não me apetece, nem um pouco.
Hoje só cruzei desconhecidos, nenhum trocou confidências ou me deu conselhos.
Hoje eu segurei meus instintos, tentei aprisionar meu descontrole, mas ele continua em mim. Fingir que ele não existe é insuportável, porque ele está aqui, como um encosto me tentando. Mas dar vazão a ele pode ter efeitos indesejados.
Ontem, eu e o desconhecidos concordamos: é uma pena que não exista antídoto para a falta de leveza.
Mas hoje, o pôr do sol deixou o céu rosa, completamente rosa, ainda que a câmera não tenha conseguido captar essa intensidade.


Mariana Penna, 2016.


Nenhum comentário:

Postar um comentário