Quando eu tinha 8 anos acreditava
piamente na existência do Papai Noel. Assim como Deus, ele era uma daquelas
coisas que os adultos nos contavam e que sequer passava pela minha cabeça a
ideia de questionar sua veracidade. Se eles falavam que existia, para mim era
certo que existia.
E era época de Natal, eu estava
especialmente animada aquele ano, tanto que, pela primeira vez, pus
enfeites natalinos ao redor da minha cama. Dentre eles, desenhei um Papai Noel,
que eu achava lindo demais. E, com minhas irmãs, passava horas na sala em torno
da árvore de natal, olhando os pisca-piscas em suas variações de ritmos e
cores.
Era chegada a hora de pedir um
presente ao Papai Noel. Meus pais sempre me alertavam sobre a necessidade de
não pedir nada demasiado extravagante, pois o bom velhinho teria que atender a
todas as outras crianças do mundo. Assim, pedia somente algo que parecesse
razoável, discutindo antes com meus pais a respeito. E desta maneira fiz
naquele ano. Eu desejava há muito uma boneca, uma Barbie sereia. Sonhava em
poder brincar com aquela miniatura de mulher adulta numa realidade fantástica.
Brincar de Barbie era muito
importante para mim, uma verdadeira libertação num mundo de tremendas limitações.
Ser criança era algo demasiado desagradável, chato. Tudo o que eu desejava era
poder escapar daquela forma de estar no mundo. O tempo, porém, parecia correr
muito lentamente e assim nunca chegava o dia em que eu poderia ter a vida que
os adultos tinham. Poder fazer minhas próprias escolhas, ter relacionamentos amorosos,
sair durante a noite, ver televisão até tarde, não ir para a escola, ter altura
suficiente para pegar o biscoito no armário. É, o mundo dos adultos parecia
realmente fantástico! Mas enquanto o tempo continuava a pregar peças em mim,
andando tão devagar que eu quase não sentia as mudanças, busquei uma maneira de
mergulhar no mundo dos adultos: através das Barbies.
Naquela realidade paralela, tudo
parecia possível para mim e minhas irmãs. E como, no capitalismo, a roda do
consumo não pode nunca estagnar, havia sempre uma novidade para despertar o
desejo das crianças, no meu caso, uma nova Barbie a combinar melhor com as
fantasias que eu desejava realizar através dela como alter ego.
Mas aconteceu algo imprevisível.
Eis que minha mãe chegou e me deu a triste notícia: “Papai Noel mandou avisar
que não será possível te dar a Barbie sereia porque a Estrela não fabrica mais
e Papai Noel não tem também como fabricar.”.
Fiquei desolada, havia criado
tantas expectativas que eu não queria nada além daquilo! Senti revolta, não
aceitei de forma alguma que o tal bom velhinho não me desse o presente que
pedi. Como manifestação do meu repúdio, pintei no papel uma faixa em vermelho para
colocar sobre a cara no Papai Noel que eu tinha desenhado com tanto carinho. Apesar
da raiva, meu respeito pela figura não me permitia ainda riscar o desenho.
Coloquei então cuidadosamente a faixa vermelha adesivando-a nas laterais. Não
arranquei os enfeites de natal, mas escrevi bem grande e afixei um papel na
parede com os dizeres: “Eu não acredito em
Mariana Penna, 2013
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